quarta-feira, 12 de maio de 2010

5ª Feira - Dia de "HOMENS E MULHERES"



 
PARIS
 
Destino: Paris. A trabalho. Perfeito! Emendo com o final de semana, enforco a segunda, terça é feriado e lá vou eu curtir a cidade a Luz por uma semana. Pequeno detalhe: sozinha, porque as amigas não tinham dinheiro e o namorado, casado….
Tudo bem. Paris é Paris e mesmo sozinha não tem como não ser bom.
Toda arrumada, com uma mala recheada de roupas de fazer inveja a qualquer mulher consumidora compulsiva e três cartões de crédito na bolsa, para eventualidades do tipo um modelito novo de bolsa Chanel, lá se foi ela rumo a França meio a trabalho e meio a passeio.
 
Foi tudo bem até o dia em que o trabalho acabou, todos voltaram e ela ficou. Eles com inveja dela e ela, no fundo no fundo, com inveja deles.
Primeiro dia de Paris na solidão: um bom sono até as dez da manhã. Um banho de banheira, café da manhã e rumo às compras.

Segundo dia: um bom sono até as nove da manhã para relaxar as pernas do dia anterior. Um longo banho de banheira, café da manhã e rumo aos museus. De preferência arte moderna que é mais alegrinha.

Terceiro dia: um bom sono até as oito da manhã para relaxar a cabeça depois de tanta informação. Um banho, café da manhã e um giro pelas lojas fora do circuito turístico. Galeria Laffayete nem pensar! 

Quarto e último dia: um bom sono até as sete e meia da manhã porque relaxada ela já estava o suficiente. Um banho, café da manhã. E fazer o que hoje? Um passeio turístico! Paris é Paris e uma boa caminhada pelo Sena é sempre bem vinda. Além do mais já estava batendo um pouco de solidão e nada como aquele visual para se sentir melhor.
E lá foi ela, toda elegante e bem vestida, com seus óculos escuros a la Jack O. fazer seu city tour a pé. Olha, vê e admira. Passeia, fotografa, observa as pessoas e eis que de repente começa a chover  e ela se refugia em um pet shop, que apesar de não ser muito chegada em tartarugas, coelhos e preás, lojas são sempre lojas e era a que estava mais próxima. 
Entra meio sem graça e se assusta com o que vê. No fundo da loja, em péssimo estado, araras azuis, papagaios e até tucanos, tristes, depenados e bem caidinhos, dentro de gaiolas apertadas com plaquinhas onde se lia “ Amazon Jungle”. Preço:15.000 reais.
Já estava meio deprê e diante daquele cenário estarrecedor uma cacatua meio rouca olhava fixamente para ela com ar de desespero.  Jurou nunca mais entrar em nenhuma loja, de animais. Saiu correndo, mas não sem antes pegar um cartão do pet shop, e foi direto para um belo bistrot saborear as famosas quiches e quem sabe até um bom vinho.
Sentada ali, pensando no namorado, rodeada por casais apaixonados, outros nem tanto, mas sempre casais, escolheu seu prato,
sacou seu iPhone, acessou a Internet, entrou no site do IBAMA e denunciou o pet shop. 

Enquanto comia observava através do vidro aquela paisagem parisiense maravilhosa, concentrada em seus pensamentos, na sua vida, no seu futuro, no seu namorado casado que não resolvia nunca largar da mulher com quem “vivia mal” há quinze anos. E eis que surge à sua frente um micro ônibus de excursão. Dentro, a parte o motorista, o resto era só mulher. Todas em torno dos 50, 70 anos, carrancudas, mau humoradas e tão ácidas que nem aquele visual de Paris conseguiria mudar. Enfim, pior que a cacatua.
Todas agarradas às suas bolsas, mudas e olhando para ela através da janela do ônibus como se "ela" fosse a infeliz,  sentada ali, abandonada e comendo sozinha.

Apavorada, olhou para o seu prato e começou a comer tentado espantar aquele pensamento pavoroso de um dia terminar assim, dentro de um micro ônibus, cheio de mulher, na cidade mais linda do mundo mas com a expressão daquela arara azul. 

Nem pensar! Se por uma ironia do destino eu acabar sozinha, me mando para a África em um trabalho voluntário. Afinal os “Médicos sem fronteiras” sempre fizeram parte das minhas fantasias!

E essa quiche está um horror!

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