sexta-feira, 21 de setembro de 2012

PARA TRAIR É PRECISO CORAGEM

Ela é casada. Bem casada. Seu marido é um sujeito bem sucedido. Não é um exemplo de beleza mas também não é escasso de aparência. Inteligente, simpático, cara de bom moço, cavalheiro e tudo o mais que as mulheres gostam. Não é o tipo bonzinho. É um homem educado.

Ela, uma mulher interessante, atraente e eternamente insatisfeita. Sempre falta alguma coisa, tem um problema ou uma reclamação a fazer. O que salva é o seu bom humor, mesmo durante seus infinitos discursos.
Exerce uma certa atração no sexo oposto. O famoso borogodó. Ela tem.

Um dia, na casa de amigos, conheceram um outro casal cujo homem, aparentemente normal, tinha alguma coisa que chamou a sua atenção. Conversaram e no final trocaram emails. Sim porque pessoas casadas trocam email e não telefones.

Começaram as mensagens e ela foi percebendo que ele era meio rude. Do tipo direto ao ponto.
Ela, prolixa, escrevia sobre seus sonhos, dúvidas sentimentais e crises matrimoniais. Assuntos esses que ele respondia sempre com um "você quer me encontrar ou não"?

Ok. Marcaram um encontro. Iriam tomar um café no shopping, apesar de ele estar mais para outro tipo de programa por ter duas horas e meia livre naquele dia.
Ela chegou. Ele não estava no local. Com medo de ser vista ali, parada no meio da rua sem fazer nada, foi dar uma voltinha, ver umas vitrines. Só que mulher quando começa a ver vitrine esquece do tempo. Voltou ao ponto de encontro 25 minutos depois e lá estava ele, nervoso, com raiva ou apavorado. Não foi possível definir. Vamos ao café.

Sentados, xícaras na mesa, ele disse batendo no relógio de pulso:
- Você atrasou. Agora só tenho vinte minutos.
- Não, quem atrasou foi você. Eu cheguei na hora, não te encontrei e fui dar uma volta para não ficar ali parada.
- E quem ficou parado fui eu.

Começou mal a conversa e como um soco no queixo ele completou:

- Me diz, afinal o que você quer de mim.
- Como assim?
- Não tem como assim. Você vive me escrevendo, não me tira da sua cabeça, então me diga o que você quer de mim!
- Não....sabe o que é...é que eu tenho muitas dúvidas na minha vida....no meu casamento....fico pensando se até hoje não tive filhos porque na verdade meu marido não é o homem certo para mim....
- Eu sei qual é o seu problema: seu marido é muito feminino. Você precisa de um macho como eu.

Foram exatamente essas as palavras dele. E bastou ela ouvir essa pérola de sinceridade para cair em si que aquele macho rústico pelo qual ela sentia de tudo: atração, aversão, vontade e raiva, conseguiu deixá-la ali, congelada, se achando a mulher mais ridícula do mundo.

E ele então continuou.

- Olha, querida, você não me tira da sua cabeça, certo?
- Não, não é bem assim. Você está imaginando coisas. Eu na verdade sinto que você é um homem diferente.... mas não ficaria com você...
- Mas está. Interrompeu ele. Pega o atalho e resume essa conversa porque eu não tenho muito tempo.
- Mas você não tinha duas horas e meia de folga?
Ele bateu no relógio de novo e disse:
- Não tenho mais. Fala logo. O que você quer de mim? Quer casar comigo? Quer namorar? Quer transar?

E de congelada ela passou a petrificada, olhando aquele dinossauro em forma de homem e pensando: o pior é que se eu disser o que eu estou pensando saio daqui desse shopping no carro do IML.
Queria dizer simplesmente: você é um grosso. Mas faltou coragem. Como sempre.