quinta-feira, 22 de abril de 2010

5ª Feira - Dia de "HOMENS E MULHERES"



SINCERAMENTE....



Ela chega no escritório, liga o computador e logo aparece aquele envelopinho no canto inferior do monitor. Emails….

Passa o olho pelas novas mensagens. Tudo como sempre: diretores, clientes, pais, amigos e aqueles malditos showzinhos de power point cheios de vírus. De repente encontra um e-mail cujo destinatario não conhecia e vinha com o título: é voce, Serena?

Ela abre e encontra uma mensagem de um tal de João Carlos. Dizia que tinha encontrado seu e-mail numa lista que recebeu, uma coisa meio mal explicada e que aquele nome o fez lembrar de uma velha amiga da universidade. Seria ela?
Sim, era ela. Lembrou dele imediatamente e feliz com a coincidência e o seu interesse em revê-la respondeu assim que leu a mensagem.
E começaram então a trocar informações sobre suas vidas. Ele casado, com dois filhos, trabalhando em uma empresa de transportes. De bem com o mundo.
Ela, mais ou menos idem, a parte o casamento e os filhos.

Um dia, finalmente, organizaram um happy hour. Se encontraram em um bar e qual não foi a surpresa ao vê-lo. O diâmetro da sua barriga e a fuga em massa dos seus cabelos eram assutadores. Na verdade ele estava bem acabado e olha que não tinham se passado tantos anos assim, mas a simpatia, o sorriso e o humor eram os mesmos.
Fazia muito calor naquele final de tarde e tomaram uns choppinhos a mais. Obviamente que muitos choppinhos puxam muitos cigarrinhos, que puxam uns aperitivinhos, que puxam muitos assuntos, que puxam algumas confissões e assim por diante.
Recordaram os velhos amigos e as velhas histórias. Depois partiram para discursos sobre a vida pessoal de cada um: amores, trabalho e família Foi quando ele, muito feliz e orgulhoso, sacou a típica foto: esposa e filhos, todos de férias numa praia, crianças tomando sorvete, mulher bronzeada e ele sorrindo, com aquela expressão de satisfação e missão cumprida. Mas mesmo assim, diante deste retrato de felicidade plena ela não pode deixar de observar que a sua tão amada prole era muito parecida, mas muito mesmo, com a famosa Família Adams. Veio uma vontade incontrolável de cair na risada mas não podia. Em poucas palavras: a mulher um horror. Muito magra, um nariz enorme, cabelos lisos, escuros e compridos, modelo permitido somente para quem tem um rosto de Liv Tyler, o que não era o caso dela. Os filhinhos então, dois monstrinhos. Quase dois gnomos. Ela olhou bem, conseguiu disfarçar e rolaram até alguns elogios, sem se aprofundar muito.

Finalmente os assuntos acabaram, as horas avançaram e eles se despediram. Ela no seu carro bacana que tinha acabado de ganhar junto com uma promoção enquanto seu amigo embarcou num mini furgão made in Korea, carro de família, como ele mesmo descreveu com um sorrisinho amarelo. No caminho para casa, meio alegrinha, foi rindo sozinha e pensando que as vezes é melhor mesmo ser free lancer do que se casar com um sujeito que depois de alguns anos se transforma num Obelix versão tropical.

Dia seguinte.
Chega no escritório, liga o computador e antes de começar a trabalhar resolveu, não se sabe porque, talvez por pena, escrever a João Carlos. Agradeceu o aperitivo do dia anterior, mostrou sua alegria em reencontrá-lo, confirmou a vontade de tentar organizar uma reunião com os outros velhos amigos e no final criou forças e elogiou sua vida, sua orgulhosa performance de pai e marido e sua "linda família". Clicou em enviar e foi cuidar da vida.

No final do dia, antes de ir embora e depois de uma reunião massacrante, resolveu dar uma olhada nos e-mails pra ver se conseguia relaxar com alguma daquelas piadinhas chatas que chegam aos montes todos os dias. Encontra uma resposta de João Carlos. Abre e lê:
“ Querida amiga. Também adorei te reencontrar. Fiquei muito feliz que você também tenha sentido o mesmo porém como seu amigo que sempre fui apesar destes anos distantes, infelizmente não posso fazer a você os mesmos elogios. Fiquei realmente muito preocupado. Você está muito bem profissionalmente mas deve começar a procurar alguém para amar, pois se vê no seu olhar que apesar de um bom emprego, um belo carro e um salário mais que suficiente ainda falata alguma coisa para você ser feliz. Te achei magra demais, agitada demais, bebendo demais e fumando demais. Se cuida. Beijo do seu amigo. JC.”

Leu e releu aquele email. Não acreditava. Ficou ali, parada, na dúvida entre responder ou não, mas como a única coisa que lhe vinha em mente era aquela foto horrorosa daquela família brega, achou melhor apagar seu endereço da sua lista, desligar o computador e ir pra casa se arrumar pra jantar fora com um Deus Grego, meio sarado demais mas bem bonitão, que conheceu num final de semana na balada.

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